Será que sofro de síndrome da dispersão?
A síndrome da dispersão pode matar a nossa saudável distração
Foto: Wesley Almeida / cancaonova.com
Tenho esse caderno até hoje, apesar de entender os evidentes limites
da metodologia. Esses dias, estive revirando velhos arquivos e dei de
cara com a lista de problemas. Lá estava o meu maior problema daquele
tempo, que até hoje permanece com dois círculos: “Ser disperso,
distraído”. Lembro o quanto lutei contra essa tendência inata de estar
sempre muito concentrado…, mas não exatamente naquilo que era oportuno
na hora. É só entrar na capela e começar a rezar que tenho ideias e mais
ideias. No volante, às vezes, tenho de parar o carro para anotar a
letra ou a melodia de alguma canção. Tive de estudar Filosofia para
entender que esse aparente “defeito de fabricação”, na verdade, era uma
grande qualidade se administrada do jeito certo. O pensador é alguém que
consegue se distrair e se maravilhar com as coisas aparentemente mais
irrelevantes. Quando começo a fazer uma pesquisa, preciso me distrair
com o objeto pesquisado, isto é, preciso do êxtase de quem se distrai.
Foram anos e mais anos procurando dominar esse talento natural.
Consegui algumas vitórias e descobri certos segredos da alma que faz
silêncio, adora, aquieta-se e ama. Rezar é distrair-se com Deus. Rezamos
quando ficamos distraidamente olhando um lago e nos colocamos no colo
do Criador de tudo aquilo. A distração pode terminar em louvor.
A síndrome da dispersão
Existe, no entanto, a síndrome da dispersão, que pode matar a nossa
saudável distração. Pensei que era uma luta minha, irremediavelmente
distraído, mas, aos poucos, percebo que vivemos em um mundo cada vez
mais disperso. As pessoas entram em casa e não sabem cozinhar sem ligar a
TV. Passam roupas, distraídas, com algum inútil programa de rádio que
repete as mesmas baboseiras 24 horas todo dia.
A juventude está cada vez mais dispersa na Internet. Esse meio
maravilhoso poderia ser utilizado para fazer milagres e alcançar mais e
mais conhecimento. Entro numa Lan House e vejo, num passar de vistas,
todos os computadores plugados em programas de bate-papo. A conversa não
vai “dois centímetros de profundidade”, pois é preciso conversar com
cinco ou seis pessoas ao mesmo tempo. Isso quando, ao mesmo tempo, não
se está em alguma sala virtual, em algum outro programa de
relacionamento e atualizando seu perfil no Facebook. É uma doença.
Pesquisas iniciais indicam que a Internet, utilizada dessa forma,
provoca dificuldade de concentração nos jovens estudantes.
Existem muitas armadilhas tecnológicas que podem capturar nossa
concentração e nos deixar dispersos. Vejo pessoas que tentam trabalhar
com um celular ao lado, que toca a cada 10 minutos; com o WhatsApp e o
Skype ligados, e assim, elas falam, falam, falam…… Um telefone
convencional toca, às vezes, um rádio bem baixinho! É possível trabalhar
assim? Nosso mundo está disperso. Nós latino-americanos somos
tropicalmente quentes e temos por natureza climática mais dificuldade de
concentração do que um alemão, por exemplo.
Precisamos rever nossos conceitos. Não seria a hora de retomar o
nosso “catálogo de problemas” e tentar apagar esse “X”? Quem sabe
possamos começar fazendo um esforço de ficar meia hora em silêncio por
dia! Parece simples, não é? Dizem que qualquer empresário que conseguir
fazer isso terá sucesso. Por que não tentar?
Padre Joãozinho, SCJ
Padre da Congregação do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos), doutor
em Teologia, diretor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP), músíco e
autor de vários livros.
http://blog.cancaonova.com/padrejoaozinho/
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