Como o corpo pode levar o homem à santidade?
Deus criou o corpo para também por ele conduzir o homem à santidade
Em um momento histórico, situado nos primeiros séculos da era cristã,
tivemos o surgimento de alguns movimentos que faziam certa oposição
entre corpo e alma, afirmando ser a alma um bem que devemos aperfeiçoar e
o corpo um mal a ser rejeitado. Os maniqueístas, por exemplo, defendiam
essa concepção do homem.
Entretanto, o homem é um ser integral, feito pelas mãos do próprio
Deus e com a Sua apreciação, que olha a criatura e diz que “é muito boa”
(Gn 1,31). O homem foi feito de material palpável, da terra, do barro…
matéria física e concreta. O Senhor soprou nele a vida e, assim, o
primeiro homem foi constituído em alma, espírito e corpo! Esse é o homem
integral.
Se temos, assim, um chamado à santidade, só poderemos
corresponder-lhe por meio do nosso ser integral. E como sabemos que
existimos? Como se manifesta nossa alma e espírito? Através do corpo.
Nas atividades cotidianas, na forma como olhamos as pessoas ao nosso
redor, como lhes entregamos nosso sorriso, nossa ajuda, na maneira como
desenvolvemos nossos afazeres, podemos ser sujeitos e canais de
santidade.
Certa vez, um garoto perguntou à sua mãe como eles se reconheceriam
no céu. “Como saberei que você é você, mamãe?”. Que pergunta brilhante!
Não será de outra forma senão pelos olhos do nosso corpo; saberemos quem
o outro é pela forma que ele possui, o tocaremos com nossas mãos,
abraçaremos com nossos braços.
Porém, em nossos tempos, infelizmente encontramos muitos apelos para
profanar a santidade que nossos corpos carregam, desviando-nos da nossa
missão fundamental de santidade. O lugar central de Deus é, inúmeras
vezes, substituído pelo corpo humano.
Imagens fantasiosas de corpos femininos perfeitos levam muitas
mulheres a desenvolverem um parâmetro irreal do que é bom, belo e
saudável. O mesmo se dá com os homens, que além de projetarem a imagem
de uma mulher que não existe (a mulher com curvas perfeitas divulgada na
grande mídia), também fazem de si pequenos deuses em busca da perfeição
estética.
No fim das contas, essa sede de perfeição é própria de todo ser
humano. Queremos o belo e o perfeito, nossas almas foram feitas para
isso! Somos cidadãos do Éden, lugar de perfeita ordem, da beleza
infinita de Deus manifestada em toda a criação.
Contudo, nossa cultura inverte completamente o significado mais
profundo do corpo. Em vez de levarmos o ser humano a realizar-se
plenamente na sua humanidade e, por meio de seu corpo, ser sujeito de
santidade, as prioridades são invertidas e não somos mais dom ao outro.
Ao contrário, fazemos do corpo um meio para a satisfação, para o prazer
pessoal. O outro deixa, assim, de ser sujeito de santidade, passando a
ser um objeto.
Entretanto, se temos em nossa humanidade as marcas do pecado original
que significou essa ruptura com o perfeito, temos também o “eco da
inocência original” (João Paulo II, 1980). Na Teologia do Corpo, o Papa
dirá que, através do corpo, a santidade entrou no mundo. Que santa
realidade! Que linda ousadia proclamar essa verdade sobre o significado
do ser humano!
Podemos, assim, escolher o caminho dessa inocência original que todos
temos marcada em nossas almas. A perfeição pode hoje acontecer para mim
e para você por meio dos nossos corpos.
As mãos poderão plantar as sementes do Reino que sentimos saudade. Os
pés podem ir em direção ao outro e, com um sorriso, convidá-lo para a
mesma santidade que desejamos viver. O abraço acolherá a dor, os ouvidos
serão território onde outros poderão partilhar suas trilhas, o nariz,
as pernas, ombros… tudo é material que constrói a santidade, vocação de
todo homem!
Autora: Milena Carbonari – Psicologa, pós graduanda em sexualidade
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