O amor entre os homens e os animais
O homem descobriu a afeição pelos animais, e o cão foi, posteriormente, eleito “o melhor amigo do homem”.
A relação do homem com os animais é
muito antiga. Parece que a mais remota é com os auroques (espécie de
bovinos já extintos), que serviam para a sobrevivência do homem. Essa
relação foi se aprofundando e surgiu a co-habitação e domesticação de
algumas espécies como ovelhas, aves e gatos. A domesticação dos cavalos
trouxe grande progresso para a humanidade. O homem descobriu a afeição
pelos animais, e o cão foi, posteriormente, eleito “o melhor amigo do
homem”. Mais recentemente, projetos científicos mostraram e elaboraram
formas de relacionamento que trazem benefícios psicológicos e até
físicos para o homem, como é o caso da equitação.
Os animais, então, serviam para o
alimento, os serviços gerais e certa amizade, figurada na imagem do cão.
Na ideia do domínio natural do homem sobre os animais, o termo usado
para se referir aos bichos que alguém cuida em sua propriedade é
“criação”. Sempre, por mais que se amasse um animal, ele nunca seria
mais do que uma “criação”.
Porém, no êxtase do individualismo da
pós-modernidade, os animais estão ganhando um novo significado e status
na relação com seus donos. É o status amoroso. Em um mundo no qual o homem desiste dos homens, sobram os animais.
Qualquer tipo de relação afetiva com uma pessoa humana é exigente,
porque a perseverança no afeto pede o amor, e este é exigente. Para
evitar esse risco, muitos decidiram ficar sozinhos e manter
relacionamentos distantes, pouco comprometidos. Nessa lógica, muitos
casais resolveram não ter filhos, ou, quando muito 1 ou 2 que para eles
já é demais. Optaram pelo individualismo institucionalizado. Mas a
solidão é o fruto indesejável desse individualismo e o homem não foi
feito para viver só. Então, como equacionar a crise da solidão
individualista?
O “amor” aos animais é a solução! É
simples, compro um bichinho e passo a ter um relacionamento amoroso com
ele. Ele passa a ser o amigo, o filho, o confidente. Ele satisfaz minhas
carências, é uma companhia, mas anda segundo minhas determinações e
obedece meu estilo de vida, porque eu sou o dono dele. Ainda melhor, ele
nunca vai exigir meu amor, simplesmente porque, não sendo livre, tem
poucas vontades e, assim, o nosso amor nunca passará de um grande afeto.
É uma boa solução, mas, na verdade, não resolve o problema da solidão,
pois esta só é vencida na grandeza do amor entre duas pessoas.
A pessoa humana só é plenamente humana, só é feliz, quando persegue o verdadeiro amor.
Claro, é muito mais fácil o afeto que o amor. Ainda mais com animais,
que, não possuindo liberdade, subjugam-se aos sabores de seu dono. A
questão é que o relacionamento de amor entre seres humanos – seja de
amizade, esponsal, entre pais e filhos, ou outros (irmãos de uma mesma
fé, profissional, coleguismos etc) – tem a grandeza de nos fazer livres a
partir da liberdade do outro.
Esse costume generalizado na sociedade
de substituir o amor que nos torna livres por algum afeto traz o perigo
de uma cultura pseudo-humana. Não é necessário mais perseguir a grandeza
da sexualidade e do amor humano, as virtudes, a capacidade de dar a
vida por alguém, a liberdade de ser bom quando o outro é mau. Os
relacionamentos se limitam a uniões afetivas e o modelo de amor dentro
de uma família se torna apenas mais uma opção, mas indesejável, porque é
muito exigente e difícil, e é uma mera opção.
Os animais são criaturas de Deus,
portanto, tem uma dignidade própria. Devem ser respeitados e podem
receber dos homens uma grande afeição que, vulgarmente, chamamos “amor”.
O Catecismo da Igreja Católica 2418 diz que “pode-se amar os animais, porém não se deve orientar para eles o afeto devido exclusivamente às pessoas”.
As belas histórias de amizade entre pessoas, crianças e animais se
tornarão falácias no dia em que esses amores forem, à medida do amor
humano, o máximo de amor que um ser humano pode dar a alguém. Se for
assim, nos reduziremos à dignidade dos animais.
Amemos muito mais os homens, para que sejamos plenamente humanos!
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