Onde sobra o EU falta Deus

Santo Inácio de Antioquia afirma que,
quando a Palavra de Deus é proclamada na celebração da Santa Missa, não
podemos perder nada. E neste dia a Palavra de Deus, para nós, é de cura,
Ele quer nos curar e nos formar para exercermos o ministério de cura e
libertação.
O Senhor é o melhor amigo do homem, Ele é
o amigo certo das horas incertas. Ele é o amigo verdadeiro, leal e o
que Ele disse se cumpriu, está se cumprindo e se cumprirá.
O Papa Francisco encontrou-se com seus
colaboradores mais próximos para as felicitações de fim de ano. Ao se
dirigir a eles o Pontífice fez um diagnóstico de 15 doenças da Igreja.
Essas doenças podem atingir a qualquer cristão. Em seu discurso ele
tocou nas feridas e trouxe ataduras para curá-las. O Senhor é assim,
quando nos mostra uma ferida Ele já a cura.
Na virada do ano muitos desejam paz,
prosperidade, dinheiro, amor e saúde. Muitos dizem: “Saúde, porque do
resto a gente corre atrás”. Se para a alta hierarquia eclesial, o Santo
Padre pediu a graça da cura; nós, que somos os menores dos menores,
também precisamos ser curados. Peçamos a Deus que faça chover sobre a
nossa vida a graça da saúde porque precisamos dela.
O Senhor é fiel. O Deus da Palavra é
alguém de palavra. O Senhor me disse ao meu coração: “Desejo curar o meu
povo. Que comecem o ano curados e bem engajados no ministério de cura”.
Existem pessoas para as quais não existe
diagnóstico para suas enfermidades, porque estas não são deste mundo,
são espirituais, portanto, não podem ser curadas com remédios deste
mundo. Assim como há doenças deste mundo que podem ser curadas com
remédios que não são deste mundo.
Santa Terezinha dizia que ela não era um
soldado que combatia com armas humanas, mas com armas do Espírito, isto
é, a Palavra de Deus.
“Finalmente, irmãos, fortalecei-vos
no Senhor, pelo seu soberano poder. Revesti-vos da armadura de Deus,
para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra
homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e
potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças
espirituais do mal (espalhadas) nos ares. Tomai, por tanto, a armadura
de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos
inabaláveis no cumprimento do vosso dever. Ficai alerta, à cintura
cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os
pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo,
embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos
inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada
do Espírito, isto é, a palavra de Deus. Intensificai as vossas
invocações e súplicas. Orai em toda circunstância, pelo Espírito, no
qual perseverai em intensa vigília de súplica por todos os cristãos” (Efésios 6, 10 – 18).
O lugar onde você está agora é uma mesa
de cirurgia, o Senhor é o cirurgião. Muitas vezes, temos medo de que
Deus mexa em nosso interior e descubra quem somos, temos medo de
melhorar. Mas o Senhor quer fazer em nós uma obra nova, quer nos curar.
Por diversas ocasiões o Papa referiu-se à
Igreja com terminologias terapêuticas. E já a chamou de hospital de
campanha. E na ocasião do discurso para a Cúria ele deu um diagnóstico
com 15 doenças: Sentir-se imortal, “martalismo” [ao nos assemelharmos
mais à Marta do que a Maria, ou seja, nos preocuparmos mais com o
trabalho do que com a oração], coração de pedra, planejamento excessivo,
má coordenação, Alzheimer espiritual, rivalidade, esquizofrenia
existencial, fofocas, divinização dos chefes, indiferença para com os
irmãos, cara de funeral, círculo fechado, lucro mundano e exibicionismo.
Peregrinos acompanham a pregação do padre Marlon Múcio durante o Acampamento de Ano Novo. – Foto: Daniel Mafra.
O soldado enfermo não está firme, não
pode lutar como convém, não pode defender sua Igreja como convém. Se o
Senhor nos trouxe este diagnóstico – com as 15 enfermidades citadas pelo
Papa Francisco – é porque Ele já está nos curando. Vamos meditá-las:
“Sentir-se imortal”. Há
quem se considere “a última bolacha do pacote”. Esta pessoa conjuga
muito o verbo na primeira pessoa, e onde sobra o “eu” falta Deus.
“Martalismo” vem de
Marta, irmã de Maria. Ela era a dona da casa, mas não se entreteve com o
Dono da história dela. Jesus queria algo mais de Marta, não a casa de
teto, chão e janela, Ele queria sua casa interior. É preciso conjugar as
mãos laboriosas de Marta com o coração adorador de Maria. Ambas são
importantes, mas apenas uma recebeu os elogios do Senhor. Maria se
deliciava com a Palava. Ela parou tudo para estar aos pés do Mestre.
“Coração de pedra”. São
aqueles que estão presos a papeis, às coisas, às leis e não se abrem ao
Espírito. Em Deus é sempre tempo de voltar, sempre cabe mais um.
“Planejamento excessivo”.
Esta atitude é de quem quer “pilotar” e “engessar” o Espírito Santo de
Deus. Recebemos o Espírito Santo em nosso batismo, mas, muitas vezes,
queremos deixar parada a água do Espírito. Deixemo-nos livres nas mãos
do Espírito Santo neste novo ano! Submetamos nossa carne ao comando do
Espírito e nos coloquemos à disposição dos planos do Pai.
“Má coordenação”, pois precisa haver harmonia no corpo espiritual.
“Alzheimer espiritual” significa o esquecimento dos feitos de Deus em nossas vidas. A pessoa que sofre do Mal de Alzheimer fica
refém da doença e das pessoas que cuidam dela, perde o autodomínio; o
mesmo vale para o nosso lado espiritual, pois perdemos o controle.
“Rivalidade”. Aqui o
Santo Padre fala das pessoas que gostam da exterioridade do culto. Na
igreja são de um jeito e em casa são de outro. São os sepulcros caiados.
“Esquizofrenia existencial”. É
a pessoa que tem dupla personalidade. Existe um divórcio entre liturgia
e vida, fé e cotidiano. É maravilhoso estar na Santa Missa, melhor
ainda vivê-la no dia a dia. Deus ficará muito feliz se, com a vida, você
cantar uma canção nova.
“Fofocas”. O Sumo
Pontífice afirma que essa é a doença dos velhacos, que não têm coragem
de falar algo na frente das pessoas, então falam pelas costas delas.
“Divinização das autoridades”. Ocorre
quando as pessoas ficam bajulando os superiores e os chefes apenas por
interesse, o que não é um desejo cristão. Ocorre com aqueles que ficam
se perguntando o que a Igreja pode fazer por eles, mas nunca se
perguntam o que eles podem fazer pela Igreja.
“Indiferença”. Você não se levanta, não se faz combatente e não levanta o irmão; se parece com um gelo.
“Cara de funeral”. Em
casa as pessoas nos observam e se não damos um bom testemunho cristão
muitas delas deixam de ir à igreja quando notam que nós, que
frequentamos a igreja, estamos piores que elas.
“Lucro mundano”. Ocorre sempre que a pessoa quer lucro a qualquer custo.
“Círculos fechados”. Aqui no Brasil isso se chama “panelinha”. A pessoa não se abre para os outros.
“Exibicionismo”. Sempre que o indivíduo se serve da oportunidade do poder para ter cada vez mais.
O Santo Padre termina essa reflexão assim: “Mas o Espírito Santo é capaz de curar todas as enfermidades”.
Padre Márlon Múcio
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