Como lidar com a saudade
“Só se tem saudades do que é bom, se chorei de saudades não foi por fraqueza, foi porque amei…”
De origem latina, “saudade” é fruto da transformação da palavra solidão, que, no latim, seria solitatem.
Com o passar dos anos, a mudança dos tempos e a variação da pronúncia
sofrida pela influência das diversas raças, o resultado é a nossa
saudade, sentimento tão familiar que até dispensa tradução.
Quem já abriu o coração ao amor sabe bem o seu significado. Talvez,
uma mistura de alegria e dor. Alegria por ter vivido algo bom e dor por
estar privado dessa alegria no momento presente. Mas será que é só isso?
Na verdade, é muito mais. Pesquisadores afirmam que saudade é uma das
palavras mais difíceis de traduzir em praticamente todas as línguas. E
quando se fala da nossa saudade, em termos brasileiros, é ainda mais
complicado, porque ela está ligada a muitos fatores, inclusive à
cultura, que tem por si só uma explosão de sentidos. O fato é que a
saudade não está ligada somente às pessoas, mas também a lugares,
tempos, situações, cheiros, sabores e tantas outras coisas que marcam
nossa história.
Quem não se recorda, por exemplo, dos amigos da infância, das
brincadeiras, dos passeios da escola, dos primeiros acenos do amor? São
recordações que nos transportam de um tempo a outro em segundos, e isso é
fruto da saudade. Esse sentimento, que tem sentido próprio para cada
um, é traduzido no dicionário como “uma sensação de incompletude, ligada
à privação de pessoas, lugares, experiências, prazeres já vividos e
vistos, que ainda são um bem desejável”. Digamos que é algo ligado ao
amor, ao afeto ou coisa assim, que é bom, mas, às vezes, “amarga que nem
jiló”, como afirma o grande compositor nordestino Luiz Gonzaga em uma
de suas famosas canções.
O interessante é que, na mesma música, ele relata também que aprendeu a lidar com a saudade de um jeito diferente: “…mas ninguém pode dizer, que me viu triste a chorar, saudade o meu remédio é cantar”.
Aí está uma via que muitos artistas seguiram, deixando, ao longo dos
anos, um arsenal de poesias e versos como herança: transformar o
sentimento em arte, conduzi-lo à gratidão. E gratidão é a palavra que
vem a minha mente quando penso em saudade!
Como “só sentimos saudades do que é bom”, em vez de pararmos na dor, por que não agradecer?
Sim, agradecer por aquilo que nos fez bem. Por exemplo: eu tenho
saudades do meu pai que já partiu para a eternidade, mas sempre que me
recordo dele, a gratidão por ter tido um pai tão bom é maior que o
sentimento de vazio que sua morte deixou. Então, sinto saudades sim, e
muita! Mas sou grata, e isso me faz seguir em frente de coração aberto
ao amor e à vida.
Penso que reconhecer as coisas boas que já recebemos, e mais ainda,
relembrar com gratidão as pessoas que Deus nos permitiu conhecer,
cativar e amar, seja uma boa dica para celebrar o dia da saudade. E como
“relembrar é, de certa forma, reviver”, relembremos momentos bons da
nossa história, pessoas queridas que fazem parte dela e expressemos
nosso amor deixando o coração falar através dos meios que estão ao nosso
alcance. E porque só se tem saudades do que é bom – e de coisas boas só
faz sentido lembrar com gratidão –, sejamos gratos também pela saudade!
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