Arcebispo renova apelo de refúgio para cristãos do Oriente Médio
Dom Yohanna Petros Mouché volta a falar da tomada de Mosul pelo Estado Islâmico e como os cristãos têm sofrido desde então
A situação dos cristãos no Oriente Médio continua crítica. Em janeiro desse ano, o mosteiro cristão mais antigo do Iraque construído pelos monges
assírios no século VI. Diante dos atos de terror, os cristãos procuram
fugir do local, muitas vezes sem ter para onde ir. O arcebispo
sírio-católico de Mosul, Dom Yohanna Petros Mouché, renovou o apelo para
que seja dado refúgio a eles.
O calvário dos cristãos começou em julho de 2014, quando a cidade de
Mosul foi tomada por terroristas do auto-proclamado Estado islâmico.
Desde então, os cristãos que lá viviam foram obrigados a converter-se ao
Islã ou a abandonarem a cidade, deixando para trás uma herança milenar.
Dom Yohanna esteve recentemente em Jerusalém. Em uma entrevista
conduzida por Sacher Kawas, do Patriarcado Latino, ele voltou a falar a
tomada da cidade, do encontro com o Papa e traçou um panorama da atual
situação dos cristãos no Iraque. Confira:
PL: Durante o Verão de 2014, a cidade de Mosul foi tomada
pelo Estado Islâmico (EI), pode-nos contar o que viveu nesses momentos?
Dom Yohanna – Depois da fuga do nosso exército
iraquiano, o EI conquistou a cidade de Mosul no início de junho de 2014.
Assustada pela presença do EI, a maior parte dos cristãos, assim como
um grande número de muçulmanos, deixou a cidade de Mosul e dirigiu-se
para o Curdistão e para as aldeias da planície de Nínive.
No início, as forças do EI mostraram-se simpáticas para com os
cristãos, só uns dias depois anunciaram as condições que permitiriam aos
cristãos viverem sob o seu domínio. Tornarmo-nos muçulmanos e, assim,
teríamos todos os direitos, pagarmos uma taxa, tornamo-nos cidadãos de
2ª, ou abandonarmos a terra e todos os nossos bens sem os quais as
nossas vidas correriam perigo.
A situação não era simples de ser avaliada, sobretudo porque aqui os
nossos cristãos vêm pedir uma solução ao seu bispo. Como o governo
central estava ausente, entrei em contato com os responsáveis curdos que
estavam conosco. Quando do primeiro ataque do EI a Qaraqoche, a maior
cidade cristã, com o fim de expulsarem os Peshemergats, o exército curdo
encontrava-se a postos para defender a nossa zona. Exerci então o papel
de mediador entre os responsáveis do EI e os do Peshemergats, mas sem
qualquer resultado.
A batalha durou três dias, a maioria dos nossos cidadãos abandonou
então a vila à exceção de uma centena de habitantes, do meu clero e de
eu mesmo. O EI não conseguiu tomar-nos e foi em um segundo ataque, no
dia 6 de agosto, que o EI se apoderou de todas as nossas cidades e
aldeias depois da nossa fuga e da retirada do exército. Assim, deixamos
tudo e dirigimo-nos para o Curdistão para salvarmos as nossas vidas e
salvaguardar a nossa fé e a nossa integridade.
PL: Foi nesta altura que enviou uma mensagem ao Papa
Francisco e ao mundo. Qual foi a resposta? Se tivesse de lançar um outro
apelo hoje, como o faria?
Dom Yohanna – Durante o meu encontro com o Santo
Padre, na quarta-feira 30 de setembro, entreguei uma carta à sua
Santidade para lhe agradecer as suas orações e todas as graças que nos
deu e pedindo-lhe que exercesse a sua influência junto dos dirigentes
mundiais para que libertassem, sem demora, as nossas cidades e aldeias e
encontrassem um lugar provisório para nós em países como a França,
Espanha e outros onde pudéssemos viver e manter a nossa liturgia e os
nossos costumes.
A nossa emigração e a nossa situação parecem travadas no tempo, se
fossemos acolhidos em grupo o nosso regresso seria mais fácil no caso de
os nossos territórios serem efetivamente libertados e os nossos
direitos assegurados. No meu testemunho sobre o respeito da vida e da
pessoa humana, em Jerusalém, por ocasião do Dia Mundial do Doente,
repeti o meu apelo ao Papa Francisco e a todos os homens de boa vontade.
PL: O que pode nos dizer acerca da vida cotidiana dos
cristãos que ainda vivem no Iraque? O que pode dar ainda a eles alguma
esperança?
Dom Yohanna – Na verdade, a nossa situação é
difícil, o futuro negro, as pessoas estão cansadas. Esperam uma solução
para que possam ter de volta a sua dignidade e em que a sua vida, o seu
futuro e o dos seus filhos seja protegido. É por esta razão que muitos
já deixaram o país e que muitos outros pensam nisso. Amamos o nosso país
enquanto a vida lá for possível. Temos orgulho na nossa religião, e
esperamos que as nossas cidades, as nossas aldeias sejam libertadas e
que venhamos a ter uma zona protegida na qual possamos usufruir de todos
os nossos direitos. Caso contrário, encontraremos um refúgio em um
outro lugar, em outros países, mas isso seria uma perda para a nossa
comunidade e para o nosso patrimônio herdados dos nossos ancestrais.
Da Redação, com Rádio Vaticano Canção Nova
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