O que o Papa disse sobre contracepção em caso de zika
Fala do Papa sobre contracepção em caso de zika repercutiu na
imprensa; doutor em Teologia Moral esclarece que não se trata de uma
liberação geral
A declaração do Papa Francisco sobre contracepção em casos de zika
vírus repercutiu em toda a imprensa (leia a íntegra da declaração ao
final da matéria). Ontem, quanto voltava do México, ele conversou com
jornalistas e abordou esse assunto, levantando a possibilidade de
métodos contraceptivos, nesses casos, para evitar um “mal maior”.
“A imprensa interpretou de uma forma diferente do que o Papa disse”,
explica o Doutor em Teologia Moral, padre Mário Marcelo Coelho. Muitos
jornais nesta manhã noticiaram que o Papa defendeu o uso de
anticoncepcionais em casos de zika vírus, mas não é bem assim, ressalta o
especialista.
“O Papa fez uma declaração para um caso específico: em determinadas
situações, para evitar o aborto, é preferível que se use métodos que
evitem a concepção. Não significa que ele está dizendo que é liberado,
que está permitido. Isso tem que ficar bem claro para a sociedade”.
O método contraceptivo é aquele que busca evitar a concepção, a
fecundação do espermatozóide no óvulo. Nesse sentido, o que o Papa quis
dizer, explica padre Mário, é que, nesses casos de zika vírus, se use um
método que impeça a fecundação em vez de fazer o aborto, que é um crime
grave. Para a Igreja, os métodos contraceptivos aceitos são aqueles
naturais, como o Billings.
“Mal menor”
Em sua declaração, Francisco utilizou a expressão “mal menor”
referindo-se a evitar a gravidez, mas frisou: “Não confundir o mal de
evitar a gravidez, sozinho, com o aborto (…) evitar a gravidez não é um
mal absoluto”.
“Entre fazer um aborto, que é matar uma criança que já está no útero
da mãe e usar um método que evite a fecundação, então que se use um
método que evite a fecundação. Ele diz que é um mal menor, ele não diz
que não é um mal”, observa padre Mário sobre a declaração. “É um mal
menor em relação ao aborto”, acrescentou.
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Cuidado com o que a imprensa noticia
Padre Mário disse que é preciso cuidar muito ao ler notícias
publicadas pela imprensa porque, segundo ele, ela é tendenciosa e usa de
uma fala para interpretá-la como quer.
“O certo é buscar uma orientação. Vá até o seu pároco, ou vá até uma
pessoa esclarecida e busque orientação. Busque também através de livros
do Magistério que procurem esclarecer sobre esse assunto. Não é que
agora a Igreja esteja liberando tudo, o Papa não liberou isso, tanto que
ele disse que é um ‘mal menor’. Nós devemos buscar uma orientação clara
sobre essas declarações do Papa”, finalizou.
A pergunta e a resposta do Papa na íntegra (tradução livre Rádio Vaticano):
Santo Padre, há algumas semanas há muita preocupação em
muitos países latino-americanos, mas também na Europa, sobre o vírus
“Zika”. O risco maior seria para as mulheres grávidas: há angustia.
Algumas autoridades propuseram o aborto, ou de se evitar a gravidez.
Neste caso, a Igreja pode levar em consideração o conceito de “entre os
males, o menor”?
Papa Francisco: O aborto não é um “mal menor”. É um
crime. É descartar um para salvar o outro. É aquilo que a máfia faz, eh?
É um crime. É um mal absoluto. Sobre “mal menor”: mas, evitar a
gravidez é – falemos em termos de conflito entre o quinto e o sexto
Mandamento. Paulo VI, o Grande!, em uma situação difícil, na África,
permitiu às religiosas de usar anticoncepcionais par aos casos de
violência. Não confundir o mal de evitar a gravidez, sozinho, com o
aborto. O aborto não é um problema teológico: é um problema humano, é um
problema médico. Mata-se uma pessoa para salvar uma outra – nos
melhores dos casos. Ou por conforto, não? Vai contra o Juramento de
Hipócrates que os médicos devem fazer. É um mal em si mesmo, mas não é
um mal religioso, ao início: não, é um mal humano. Além disso,
evidentemente, já que é um mal humano – como todos assassinatos – é
condenado. Ao invés, evitar a gravidez não é um mal absoluto: e, em
certos casos, como neste, como naquele que mencionei do Beato Paulo VI,
era claro. Ainda, eu exortaria os médicos para que façam tudo para
encontrar as vacinas contra estes dois mosquitos que trazem este mal:
sobre isto se deve trabalhar. Obrigado.
Da Redação - Canção Nova
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